Mochila

janeiro 24, 2018 Helô Righetto 2 Comentários


Durante o nosso ataque ao cume no Kilimanjaro, uma pessoa do nosso grupo se sentiu um pouco enjoada quando estávamos quase na metade do caminho. A primeira coisa que o nosso chefe de expedição fez foi tirar a mochila dela e entregar para um dos guias, que a carregou até o cume. Já mais pra frente, faltando mais ou menos uma hora pra chegarmos, eu já não estava aguentando mais a minha mochila. Não tinha quase nada dentro dela, mas estava pesando uma tonelada e chegou um momento que eu achava que não conseguiria dar mais um passo sequer. Se eu sentasse, só iria me levantar se fosse pra começar a fazer o caminho de volta. Nesse momento, a pessoa que estava sem a mochila há várias horas (e recuperada do enjôo), se ofereceu pra carregar a minha. Naquela altura do campeonato ela estava mais disposta do que eu, e eu sabia que ela realmente estava afim de me ajudar (estávamos caminhando no mesmo grupo há dias). No minuto que tirei a mochila das costas me senti melhor, foi impressionante.

Passado mais um tempinho, quem começou a sentir o peso da mochila foi o Martin. Ele parava várias vezes pra apoiar a testa sobre as nossas 'bengalas' de caminhada (walking sticks), e eu genuinamente achei em um dado momento que ele ia cair de cansaço. Então eu me ofereci pra carregar a mochila dele naqueles últimos metros - ter me desfeito da minha tinha me dado uma energia extra, e poder ajudá-lo também foi algo que surpreendentemente acabou me motivando a dar aqueles últimos passos até o cume.

Estou contando essa historinha pra fazer um paralelo. Ando pensando muito no fato de que a gente quase não pergunta pras pessoas ao nosso redor como elas estão (como está o peso da mochila delas) - perguntando pra valer mesmo, querendo saber a resposta verdadeira e não apenas a 'educada' (entre muitas aspas porque odeio isso de ter que perguntar/responder por obrigação, odeio a ideia de que não podemos incomodar os outros com os nossos problemas).

A gente meio que acha que sabe como as pessoas estão. E a gente geralmente acha que todo mundo está bem. Concorda? 'Ah, você sabe da fulaninha?' 'Sei sim, ela tá bem, trabalhando....' soa ou não soa comum? Tenho mesmo refletido muito sobre isso, sobre as vezes me pegar me sentindo sozinha sendo que estou rodeada de amigas. E as poucas pessoas com as quais eu dividi esse pensamento concordaram comigo. Tá todo mundo negligenciando todo mundo, a gente segue cada dia achando que 'tá tudo bem'.

Tenho feito um esforço pra sair desse ciclo vicioso. Faço parte de um monte de grupos no whatsapp, e me dei conta que raras são as vezes que tenho conversas particulares, sem ser aquela generalização dos grupos (não que eu não goste do bate papo com turma grande, muito pelo contrário). E noto que algumas pessoas fazem o mesmo, e isso me deixa contente. Receber uma mensagem só pra mim: 'oi, você tá bem? Vamos nos ver?' soa pra mim como 'deixa eu te ajudar a carregar a mochila pra você também chegar no cume'.

Enfim, um pouco de divagação pra dar uma animada por aqui ; )

E vocês, tudo bem?

2 comentários:

  1. Já é o segundo post que eu leio hoje sobre isso. Ajudar e se importar com quem está do lado é muito importante, nos dias difíceis de hoje.

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  2. Não poderia concordar mais. Realmente a gente sempre supõe que o outro está bem, e imagino que as redes sociais contribuem para essa impressão. A gente vê a foto da amiga sorridente na praia e toma isso como prova.

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